sábado, 15 de outubro de 2011

Depoimento de uma professora que ama o que faz!



O sonho de ser Professora
Sempre tive vontade de ser professora. Desde muito cedo as minhas brincadeiras eram voltadas para o universo escolar.
Imaginava ser uma professora de verdade, que vivia rodeada de muitos alunos. Naquela época eu não tinha quadro, então usava as portas do guarda-roupa (para desespero de minha mãe) e também pedaços de carros que ficavam na oficina mecânica do meu pai (ao lado de minha casa). O giz eram pedaços de gesso, que encontrava na rua ou sobras que pegava no final das aulas.
O tempo passou, e o meu sonho começava  a se tornar realidade. Em 1984 concluindo a oitava série decidia com muita convicção fazer magistério, no instituto Kennedy. Foram anos de muito aprendizado. Adorava o que descobria a cada dia. No final do curso de 1987estagiei em uma 4ª série, foi maravilhoso. Como eu amava planejar os conteúdos o material a ser utilizado! O amor ao que eu estava fazendo amenizava as dificuldades da minha falta de experiência.
Em 1988, trabalhei em uma escolinha do bairro. Foi mais um ano de aprendizado. Ajudava no transporte escolar e o resto do tempo ficava auxiliando as professoras. Foi um ano que conheci vários níveis, do maternal a 4ª série. Gostava muito quando ficava na 4ª série, me sentia bem melhor convivendo com a autonomia e desembaraço dos alunos, próprios daquele nível.
Em 1991, consegui emprego no Hospital Infantil Varela Santiago, como recreadora. Ficava em uma salinha com os pacientes que já razoavelmente melhorados. As crianças assistiam TV, brincavam com brinquedos, jogos, desenhavam e pintavam. Foram quase 10 anos de mais aprendizado, desta vez aprendi a valorizar a  saúde e ainda mais a minha família. Sei  que o meu papel era muito importante, pois ajudei aquelas crianças a se sentirem melhor e também a valorizar o meu trabalho.
Em 1999 fiz um concurso para professores do município de Natal. Passei, mas só fui convocada em 2001. O ano de 2000 foi cheio de expectativas, estava ansiosa e com medo ao mesmo tempo. Em fim chega 2001, finalmente foi chamada e me apresentei a escola Nossa Senhora dos Navegantes, aquela que seria a base   e que também iria fazer parte do meu crescimento profissional e pessoal. A primeira pessoa que conheci na escola foi dona Arlete, a vice-diretora. Numa tarde junto com minha mãe me apresentei. Naquele dia fui parar na praia e depois ajudada por um senhor que me ensinou o caminho, era o “Bigode” (vendedor de doces que ficava em frente à escola) Quando cheguei encontrei dona Arlete rodeada por algumas pessoas que cuidavam da limpeza e merenda da escola. Ela mostrou-se muito simpática. Conheci ali a primeira pessoa que iria me dar uma enorme força nesse início de carreira.
Comecei ensinado no turno intermediário, numa turma de 2º ano. Devido a minha falta de experiência sofri bastante com alguns alunos. Um deles era Luís  Paulo, jamais esquecerei o rosto dele, me provocando e desafiando. Eu não conseguia me impor, atitude natural para um “marinheiro de primeira viagem”. Durante aquele ano contei com a ajuda importantíssima de Dona Arlete. Até trocar de sala foi necessário para que ela pudesse me ajudar. Aprendi muito com ela. Agradeço-a sempre por isso. Ela tinha um ar de respeito.
Os anos se passaram, em 2003 fiz um segundo concurso e passei. Iria dar aula na mesma escola. Foi muito bom, pois não viveria o corre-corre de outras escolas. Estabelecia-se ali ainda mais o vínculo profissional e emocional com aquela comunidade. Neste mesmo ano estava concluindo Pedagogia na UFRN. Foi um ano difícil, pois tinha que dar conta de relatórios e viver intensamente as formalidades de conclusão de curso, como a monografia. Consegui vencer os obstáculos. Cresci com as dificuldades. E ainda sofri com a labirintite.
Acredito em destino, sempre quis ser professora e ainda estudar na UFRN. Às vezes achava isso impossível, mas aconteceu, sei que me esforcei, e que contei com minha família. Teria que ser assim, passava na primeira turma de pedagogia à noite. Nunca desisti de fazer o curso. Antes o curso era oferecido só à tarde, então me escrevia em letras. Como sempre acreditei em fazer pedagogia, aconteceu. Foi maravilhoso saber o resultado positivo. Foram sete tentativas no vestibular, mas valeu á pena não ter desistido. Foi uma lição para eu mesma (para confiar mais em mim) e para outras pessoas. Que já se sentiam saturadas de resultados negativos.
O ano de 1998 marcou a minha vida também, me ensinou que devemos acreditar que somos capazes de realizar nossos sonhos.
Em 2011 completo dez anos de experiência como professora. Agradeço a Deus todos os dias. Também agradeço aos colegas professores que fizeram e fazem parte desta construção contínua, desse crescimento. Agradeço aos alunos, sem eles não haveria razão para melhorar, crescer. Até aqueles mais agitados, que no fundo imploram por alguém que os ensine a seguir regras, muitos vezes não  cobradas em casa. Por isso acredito que se não houvesse esse tipo de alunos o nosso  crescimento profissional seria superficial. A comunidade escolar como um todo  equipe, funcionários, cada um tem uma parcela de contribuição na minha formação. Agradeço a comunidade da Redinha que me acolheu que tem tanto problemas, mas que ainda acredita na responsabilidade, dedicação e respeito nosso, enquanto professore conscientes do seu papel e com certeza na EDUCAÇÃO.
Estou na metade de um longo caminho, sei da importância da escola Navegante em minha vida profissional e pessoal. Às vezes paro para pensar e vejo, percebo muito crescimento, que foi possível através dos erros e acertos, da ajuda de pessoas que estão na escola e outras que não mais trabalham na escola, de ex-alunos e alunos atuais. AGRADEÇO ADEUS por ter me colocado aqui (Navegantes) por ter conhecido pessoas importantes e as que ainda irei conhecer. Quero poder colaborar mais e mais para a melhoria de vida das crianças desta comunidade, que vê uma luz no fim do túnel, chamada EDUCAÇÃO. Respeito meu trabalho e as pessoas que dele fazem parte. Minha obrigação é também meu prazer é dedicar-me cada vez mais de corpo e alma á minha profissão, fazendo o que possível.
Diante da falta de compromisso da gestão pública com a educação, procuro lutar junto com meus colegas de trabalho de maneira justa e verdadeira, participando dos movimentos. Sei que trabalhar o dia inteiro é muito desgastante, mas necessário para alguém que pensa na melhoria de vida de sua família. È importante fazermos nossa parte, apesar dos problemas, e agirmos com respeito aos pais e alunos, sem deixar de lado nossas reivindicações, que trarão dignidade ao nosso trabalho, a nossa vida.
Faço o que amo. Preciso fazer o melhor, procurando acertar mais, mas sabendo que o erros virão pois fazem parte do processo natural do nosso crescimento.
No dia em que não estiver mais em sala de aula, quero ter boas recordações. Deixar o espaço escolar com dignidade, sabendo que cumpri o meu papel e acreditando que fiz o melhor que pude.
Apesar das dificuldades da não valorização da educação acredito que não posso perder o estímulo, devo participar dos movimentos e reivindicações e continuar fazendo o meu trabalho da melhor  maneira possível, pois as crianças não podem pagar por erros de políticos sem comprometimento com a população.
Finalizo minhas palavras com uma certeza: A vocação é fundamental em qualquer profissão e ainda mais quando se trata do cuidado com outras pessoas, no nosso caso, as crianças, que junto com suas famílias merecem respeito, por mais humilde que sejam. Essas pessoas precisam da educação para construir um futuro melhor.
Confirmo o amor á minha profissão. Agradeço a comunidade que faz parte da E.M. Nossa Senhora dos Navegantes!

Texto escrito pela Professora Rita de Cássia da E.M.Nossa Senhora dos Navegantes em virtude dos seus 10 anos de  trabalho como professora.

Um comentário:

Marineide Venâncio disse...

Ficamos felizes e orgulhosos de poder trabalhar com pessoas como a professora Rita.

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